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Geração Z dita o ritmo da transformação dos meios de pagamentos 1g183n

Por: Marlon Tseng 6q3s2k

Marlon Tseng é o CEO e co-founder da Pagsmile, instituição de pagamentos especializada em soluções que conectam negócios a mercados emergentes. Ele é formado em istração pela Escola Superior de istração e Gerência, da Universidade do Estado de Santa Catarina, e em Comércio Internacional pela Concordia University, em Montreal, no Canadá. Também é mestre em Comércio Internacional pela Dongbei University of Finance and Economics, na China. Especialista em meios de pagamento e tecnologia financeira, tem experiência em expansão de negócios internacionais e adaptação de soluções de pagamento para mercados locais.

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Os jovens da geração Z têm uma relação diferente com o dinheiro: em geral, enfrentam salários mais baixos, o que, somado a outros fatores, contribui para o acúmulo de dívidas e índices de inadimplência superiores aos observados entre os millennials (nascidos entre 1980 e 1994), quando tinham a mesma faixa etária.

Jovem da geração Z usa celular e cartão de crédito enquanto organiza as finanças em um ambiente doméstico.
Imagem gerada por IA.

Ao mesmo tempo, demonstram certa aversão ao crédito rotativo tradicional e preferem manter controle absoluto sobre os gastos. Isso se traduz em uma preferência massiva (85%) por meios de pagamento digitais – como Pix, QR codes e carteiras digitais – entre os jovens nascidos entre 1995 e 2010, conforme o estudo Tapping into the Future of Payments, da PYMNTS Intelligence.

No Brasil, onde o grupo representa 21,1 milhões de consumidores (10% da população, segundo o IBGE), o impacto dessa transformação é evidente, e não se resume a uma mudança de hábito. O que observo é uma ruptura geracional, que tem impulsionado bancos, fintechs e varejistas a revisarem seus modelos de negócio.

Rejeição ao modelo tradicional e ascensão dos bancos digitais 29614a

Trata-se de um movimento liderado, sobretudo, por jovens entre 15 e 30 anos, cujo comportamento de consumo reflete uma postura crítica em relação às soluções financeiras disponíveis. A geração rejeita, com naturalidade, serviços que não oferecem uma experiência ágil, transparente e plenamente integrada ao seu cotidiano hiperconectado.

É nesse contexto que os bancos digitais ganham relevância. De acordo com um levantamento da Anbima, 66% da geração Z já aderiram a esse novo ecossistema financeiro, que se destaca por adotar uma linguagem mais próxima do público jovem, interfaces intuitivas, serviços personalizados e uma comunicação mais clara e direta.

Essa preferência crescente por soluções digitais é uma escolha pautada pela conveniência, mas também é um indicativo de que o modelo tradicional de instituição bancária como conhecemos está em processo de esgotamento. Ela também pressiona as instituições tradicionais a repensarem sua presença física; prova disso é o movimento dos principais bancos privados do país – Itaú Unibanco, Bradesco e Santander – que, somente em 2024, encerraram em conjunto 856 agências físicas, após já terem fechado outras 679 unidades no ano anterior.

A ruptura do papel-moeda e o novo paradigma financeiro 4k1t1g

Mas os dados mais curiosos vêm de uma pesquisa conduzida pela Ipsos: um a cada quatro (25%) desses jovens nunca depositou em caixas eletrônicos e 14% nunca fizeram um saque. Estamos diante da primeira geração que pode prescindir completamente do dinheiro físico – de fato, o uso do papel-moeda como meio de pagamento caiu de 83,6% em 2021 para 68,9% em 2024, segundo o Banco Central.

Esses dados demonstram algo que vai muito além de meras curiosidades estatísticas. Eles traçam os contornos de um novo paradigma financeiro, que demanda mais do que soluções tecnológicas. O novo formato não é só digital – ele é, também, profundamente emocional, social e comportamental.

Saímos do modelo centralizado, em que instituições controlavam o ritmo, para o modelo centrado no usuário, no qual o cliente exige protagonismo e propósito, escolhendo montar, ajustar e entender conforme suas necessidades. Nada de pacotes fechados, eles esperam serviços sob medida. A educação financeira não se faz à parte, deve estar integrada à jornada com gentileza. Letras miúdas, nem pensar! Clareza nos contratos e posicionamento ético são regras.

Os pontos de partida para alcançar essa nova realidade são a usabilidade, a transparência, a segurança e a educação; e a jornada só será completa quando conseguirmos construir um mercado à altura do dinamismo e das exigências das novas gerações – o que vai depender de entendermos bem a GenZ e seus sucessores.