Atualmente, quem trabalha com e-commerce (principalmente importação) está atento às notícias para qualquer atualização na tensão comercial envolvendo as duas grandes potências mundiais, EUA e China. As decisões dos dois países impactam diretamente o cenário das vendas nos marketplaces, com destaque para a Amazon, que vem sendo afetada diretamente. Em função disso, muitos sellers vêm me perguntar como isso pode afetar a operação deles.

Recentemente eu fui para os EUA e no ano ado estive na China visitando a Canton Fair, aperfeiçoando meus conhecimentos sobre importação. Por isso, me sinto na obrigação de esclarecer alguns aspectos e até arriscar traçar um panorama de possíveis vantagens que isso pode trazer para o seller que souber jogar o jogo. Vou evitar citar números, já que, enquanto escrevo, eles podem ficar desatualizados, pois essas decisões são tomadas literalmente do dia para a noite.
Segundo uma estimativa, pouco menos de 70% dos produtos vendidos na Amazon EUA são importados da China. Isso por si só já mostra o quanto o marketplace é dependente da cadeia de suprimentos do país asiático — algo que, em tempos de tensão tarifária, se torna um ponto sensível.
Impacto das tarifas e reação das empresas 5p2z4b
Pouco tempo após tomar posse de seu segundo mandato, o presidente americano Donald Trump impôs tarifas sobre uma ampla gama de produtos chineses, como parte da estratégia de uma “guerra comercial”. No entanto, ele recuou especificamente no segmento de eletrônicos (mas, como eu disse no começo deste texto, ele ainda pode recuar em outros segmentos ou retomar essas tarifas). Um dos motivos para esse recuo foi a forte pressão de empresas, como a Apple, que calculou que o custo de fabricação de seus produtos aumentariam, caso fosse forçada a produzir dentro dos Estados Unidos.
Um iPhone, por exemplo, sairia até três vezes mais caro se não houvesse exceções tarifárias. Por isso que a Apple, junto com outras empresas de renome do setor de tecnologia, intervieram diretamente na decisão do presidente, alegando riscos à competitividade e ao o do consumidor final. Porém, as demais tarifas (produtos não-eletrônicos) foram mantidas, e é nesse ponto que o impacto começa a ser percebido de forma mais ampla no mercado.
Com a manutenção das tarifas sobre produtos não-eletrônicos, a tendência natural é o encarecimento desses itens no mercado americano. Isso não só afeta o consumidor final como também impõe desafios aos vendedores que operam nos marketplaces dos EUA.
Oportunidades para o Brasil no cenário global 1p4u44
Esse novo cenário, no entanto, abre espaço para que outros países com acordos comerciais favoráveis aos EUA ocupem esse vácuo. É um movimento que já começa a ser desenhado nos bastidores, principalmente entre países latino-americanos e asiáticos com relações comerciais sólidas com os Estados Unidos.
Em meio a essa disputa, o Brasil se apresenta como uma opção viável e estratégica tanto para os Estados Unidos quanto para a própria China. Se, por um lado, os norte-americanos buscam alternativas de abastecimento para fugir das tarifas impostas aos produtos chineses, por outro, os chineses também precisam encontrar novos destinos comerciais para não comprometer seu escoamento de produção. E é aí que o Brasil pode se tornar um protagonista.
O país vem crescendo de forma expressiva no volume de importações, e a guerra tarifária entre as duas maiores potências mundiais acaba por fortalecer o mercado interno brasileiro em alguns setores. Empresas chinesas estão cada vez mais voltadas ao nosso território, enxergando no Brasil um mercado consumidor em expansão, com potencial de absorção de produtos e, principalmente, com capacidade de operação logística favorável. Além disso, essa reconfiguração geoeconômica pode trazer benefícios como facilidade de crédito, melhores prazos logísticos e estímulo à produção local, fomentando uma cadeia mais integrada e competitiva.
Desafios e a necessidade de adaptação estratégica 3f3d2h
E claro que essa situação não se trata apenas de oportunidades. A tensão entre China e EUA também provoca instabilidade nos mercados internacionais, impacta os preços de commodities, afeta investimentos e gera um clima de incerteza que pode retardar decisões estratégicas de médio e longo prazo. Estamos falando das duas maiores economias do planeta em conflito direto. Toda medida protecionista aplicada em larga escala — como tarifas sobre bilhões de dólares em produtos — acaba por respingar em toda a cadeia global, especialmente em países emergentes como o Brasil.
Olhando com frieza e pensando estrategicamente, a disputa EUA x China pode representar uma chance única de reposicionamento para o Brasil no mapa global de importações e exportações. Seja como rota alternativa para os chineses, seja como parceiro comercial dos americanos, o Brasil precisa estar atento e preparado.
Quem atua com marketplace e opera em modelos de importação deve acompanhar com atenção os desdobramentos tarifários e os acordos comerciais que podem ser firmados ou atualizados a partir dessa tensão. Estamos diante de um cenário no qual geopolítica, comércio eletrônico e logística global se cruzam intensamente. E quem souber interpretar esses sinais — e agir com eficiência — vai ter vantagem competitiva real nos próximos anos.