Você está navegando no Facebook, Instagram ou TikTok e, de repente, aparece uma oferta irresistível: um planner gratuito. No dia seguinte, lá está ele de novo. E de novo. Só que agora acompanhado de um saca-rolhas eletrônico, um protetor de ralo, uma fita para ajustar a barra da calça sem costura, um pulverizador de azeite…
Produtos que você nunca imaginou precisar, mas que, de alguma forma, acabam no seu carrinho. Afinal, o preço também é convidativo. Antes do check-out, o e-commerce ainda oferece um descontinho: é só girar a roleta.

Essa combinação de recorrência, curiosidade, descontos lúdicos e preços ultrabaixos resume bem a estratégia da Temu, o e-commerce chinês que conquistou o Brasil em tempo recorde. Em um ano de operação, a plataforma não só ganhou visibilidade como ultraou concorrentes consolidados, reposicionando o jogo do varejo digital por aqui.
Um crescimento fora da curva 5a3oh
A Temu pertence ao grupo chinês PDD Holdings, também dono do Pinduoduo, conhecido por integrar compras coletivas com gamificação e descontos agressivos. No Brasil, a plataforma iniciou suas atividades em maio de 2024 e, em março de 2025, já havia registrado 216 milhões de os, segundo o ranking divulgado mensalmente pela Coversion. O número a colocou como o terceiro lugar do país, atrás somente do Mercado Livre e da Shopee, e à frente da Amazon.
A estratégia por trás desse feito é baseada em três pilares:
– Preços absurdamente competitivos
– Catálogo vasto e diversificado
– Marketing digital intensivo com alto apelo psicológico
E é aqui que a Temu mostra seu diferencial: ela não vende somente produtos. Vende o estímulo à descoberta constante, reforçado por algoritmos que aprendem rápido e jogos que prendem a atenção do usuário.
Por outro lado, o número de os não necessariamente se traduz em vendas. O e-commerce não abre os dados de faturamento no país, mas sabemos que muitas pessoas baixam o aplicativo e entram por curiosidade, ainda mais porque a empresa coloca em seus anúncios digitais iscas com produtos gratuitos.
O papel da gamificação 1b3u5m
Roletas que distribuem brindes, joguinhos internos com recompensas em pontos e até uma fazendinha virtual na qual você “colhe” bônus que viram desconto. A Temu aposta pesado na lógica da recompensa instantânea. Isso aumenta o tempo de permanência no app e cria um vínculo emocional com a experiência de compra.
Essa abordagem tem se mostrado especialmente eficaz entre os consumidores das classes C e D, que encontram na plataforma não só economia, mas também entretenimento – uma combinação potente em tempos de atenção escassa e inflação persistente.
Mais do que conveniência, os consumidores hoje buscam novidade, preço e estímulo constante. E a Temu entendeu isso muito bem. Seu modelo se encaixa no perfil de quem compra por impulso, resolve pequenas dores do dia a dia e não se importa em esperar um pouco mais pela entrega se o preço compensar.
Nem tudo são flores: os desafios da Temu 56d2a
Apesar do crescimento acelerado, a Temu já enfrenta questionamentos importantes. Críticas sobre a qualidade dos produtos, atrasos nas entregas, falhas no e ao cliente e falta de transparência na cadeia de suprimentos começaram a surgir com mais força nos últimos meses.
No Reclame Aqui, a nota está em 4,7 e a empresa aparece como “não recomendada” pelos consumidores. A empresa recebeu mais de seis mil reclamações no último ano.
Por isso, também tem o desafio de construir reputação no médio e longo prazo, especialmente num mercado em que confiança e experiência pós-venda fazem toda a diferença.
Para manter o ritmo de crescimento, a Temu terá que enfrentar uma nova etapa: investir em logística local, melhorar a qualidade da jornada do consumidor e lidar com temas cada vez mais sensíveis, como sustentabilidade, proteção de dados e ética empresarial – fatores que estão ganhando espaço nas decisões de compra dos brasileiros.